ANGELICAL POISON

Há momentos na minha existência que entro bruscamente numa fase estúpida de rejeição de mim mesma, como se me abandonasse para propositadamente sentir-me mal comigo mesma. Nesse momento do tempo em que me questiono e interrogo infinitas vezes porque me sinto tão pesada com essa vontade de não ser eu. E quando começo a ficar triste, sinto um desejo ardente de sair da penúria e com toda a minha fúria pergunto-me se sou feliz. Uns instantes mais tarde concluo que sou a pessoa mais feliz do mundo E que se pudesse pesar minha felicidade teria mais que o peso de uma baleia num mar de estranha magia. Será que as baleias são felizes?

Eu foi aquela menina Que minha mãe ensinou de pequenina O jeito de uma mulher se portar! Foi criança aos namoricos Que enviava cartas aos rabiscos: "Amo-te! Amas-me? Responde: Sim ou Não? Nessa altura era fácil porque amava com o olhar. Não precisava da presença para a fumaça aguentar. Um simples "Sim" bastava para me sentir mais pesada tamanha a alegria que me avassalava. Foi jovem à descoberta, Foi guerreira, foi poeta E de todas as vezes que foi testada Sei que fiz a escolha certa! Descobri e aprendi! Umas vezes chorei, noutras ri! Como Mulher Já tive com Homens e meninos Uns grandes, outros pequeninos... Vivendo intensamente, desafiando perigos! Já tive miúdos e graúdos Encontros fugazes, amores desencontrados Paixões intensas! Foi mais amada do que amei. Foi mais traída do que traí. Abandonei e já foi abandonada. Sou dona de mim mas também do nada. Com isto aprendi que os amores vêm e vão Mas a minha Vida não! Por isso quero vivê-los todos!

Meu Coração ateu há muito que vagueia como uma folha perdida ao vento Sem medo da aragem, dos fantasmas ou da solidão... Meu coração ateu se conforta no seu próprio vazio porque há muito que sua crença foi suspensa no ar numa noite de trevas para todo o sempre... Meu coração ateu faz de mim este "eu" que se ergue forte e que deseja até à morte Nada, que não deseja ninguém como seu suporte que a possa da forma mais íntima e interna tocar... Coração ateu sou eu! Que faço de mim uma muralha e me construo feliz Mesmo que para alcançar tamanha felicidade Meus olhos tenham que ser cegos e vertam como um chafariz... Eu sou um Coração ateu Porque desafio as leis da sociedade E sou eu quem escolho a felicidade Em vez de pensar que ela caí do céu! Eu e meu coração ateu caminhamos de mãos dadas E vamos lambendo nossas feridas Para que a vida seja menos pesada E para que continuemos, juntos, nessa longínqua caminhada...